quinta-feira, 15 de abril de 2010

Papa Bento XVI, chega de mistificação.

A ABGLT – Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – é uma entidade de abrangência nacional, fundada em 1995, que congrega 237 organizações congêneres e tem como objetivo a defesa e promoção da cidadania desses segmentos da população. A ABGLT também é atuante internacionalmente e tem status consultivo junto ao Conselho Econômico e Social da Organização das Nações Unidas. Diante da declaração do Secretário de Estado do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone, que afirmou nesta segunda-feira (12/04/2010) que é o “homossexualismo” (sic), e não o celibato, que deve ser relacionada à pedofilia, a ABGLT vem a público se manifestar:A ABGLT deixa claro no seu estatuto que é contra a pedofilia, seja ela praticada por pessoas de qualquer orientação sexual ou identidade de gênero, heterossexuais ou homossexuais. A ABGLT, no seu primeiro Congresso, realizado de 20 a 24 de janeiro de 2005, em Curitiba, Paraná, Brasil, deliberou pela defesa e garantia do estado laico e contra a exploração e abuso sexual de crianças e adolescentes. A ABGLT entende que a pedofilia é um transtorno, conforme a Classificação Internacional de Doenças 10 - F65.4: 302.2, e que o abuso sexual de crianças e adolescentes é crime. A ABGLT mantém uma campanha permanente contra a pedofilia e o abuso sexual de crianças e adolescentes: http://www.abglt.org.br/port/luta_pedofilia.php ;Diversos estudos sobre a pedofilia e sobre o abuso sexual de crianças e adolescentes apontam que a maioria destes crimes é perpetrada por heterossexuais, sem que isto signifique que a heterossexualidade cause a pedofilia. As questões relacionadas à pedofilia propriamente dita são muita complexas e não podem se reduzir a tão simplista diferenciação baseada na orientação sexual dos agressores. O que surge de fato como tendência nos estudos é que os crimes são praticados especialmente por pessoas que têm proximidade, exercem autoridade e possuem confiança em relação às crianças e aos adolescentes, como pais, familiares, religiosos;A ABGLT não aceita esta provocação do Vaticano contra as pessoas Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – LGBT, que não passa de uma tentativa de desviar a atenção do problema maior que se prolifera dentro do seio da Igreja Católica, o qual deve - sim - ser explicado e esclarecido para a sociedade em geral;A ABGLT defende um Estado Laico e entende que a liberdade religiosa não garante ao Vaticano o direito de julgar com suas próprias leis os seus pares que abusam de crianças e adolescentes. A ABGLT entende que religiosos que cometam crimes de abuso sexual de crianças e adolescentes, além de ter o devido acompanhamento dos serviços de saúde, devem ser submetidos às penas previstas pela lei secular, assim como o restante da população. Assim, a ABGLT se soma às demais instituições de direitos humanos e pede que o Vaticano se explique sobre estes crimes cometidos por sacerdotes católicos, e que não culpe de forma irresponsável a comunidade LGBT; A ABGLT, diferente dos setores fundamentalistas religiosos, defende a educação sexual para crianças e adolescentes, de tal modo que aprendam a ter autonomia sobre seu corpo, e a se proteger e denunciar abusos dentro de casa, nas igrejas e em qualquer outro lugar; A ABGLT convoca as organizações profissionais, de direitos humanos e LGBT, nacionais e internacionais, a se pronunciarem sobre o assunto; A ABGLT espera que o Secretário de Estado do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone, tenha o mínimo de respeito para as famílias das crianças abusadas por padres e bispos da Igreja Católica, e que, ao invés de jogar a culpa de seus escândalos para a comunidade homossexual, reflita sobre o passado e o mal que historicamente a Igreja tem feito aos negros, deficientes, mulheres, judeus, ciganos, homossexuais e crianças e adolescentes em todo o mundo. Será que futuramente a Igreja vai pedir perdão também aos homossexuais por mais este erro que está cometendo agora? Viva o Estado Laico. Pelo direito da Educação Sexual de crianças e adolescentes, pela punição (conforme as leis seculares) de religiosos que abusam sexualmente de crianças e adolescentes, por uma nova Igreja que respeite os direitos humanos de todos os cidadãos e todas as cidadãs, sem distinção de qualquer natureza.Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais OFFICIAL ABGLT POSITION ON VATICAN STATEMENTS ABOUT HOMOSEXUALITY ABGLT – the Brazilian Lesbian, Gay, Bisexual and Transgender Association – is a national network, founded in 1995, currently having 237 member organizations throughout Brazil. Its mission is to defend and promote the citizenship of these segments of the population. ABGLT is also active on the international scenario and has consultative status with the United Nations Economic and Social Council. In the face of the statement made by the Vatican’s Secretary of State, Cardinal Tarcisio Bertone, this Monday (12/04/2010) that it is “homosexualism” (sic), and not celibacy, that should be related to pedophilia, ABGLT publicly manifests itself as follows:In its by-laws, ABGLT makes it clear that it is against pedophilia, regardless of the sexual orientation of gender identity of those who practice it, whether they be heterosexual or homosexual. During its 1st Congress, held on January 20th to 24th 2005, in Curitiba, Paraná, Brazil, ABGLT decided in favour of the defence of the Secular State and against the sexual exploitation and abuse of children and adolescents. It is ABGLT’s understanding that pedophilia is a disorder, as per the International Classification of Diseases 10 - F65.4: 302.2, and that the sexual abuse of children and adolescents is a crime. ABGLT has a permanent campaign on its website against pedophilia and the sexual abuse of children and adolescents: http://www.abglt.org.br/port/luta_pedofilia.php;Many studies on pedophilia and the sexual abuse of children and adolescents indicate that the majority of these crimes is perpetrated by heterosexual people, without this implying that heterosexuality causes pedophilia. The issues relating to pedophilia itself are very complex and cannot be reduced to a simplistic differentiation based on the sexual orientation of the aggressors. What does arise as a tendency in the studies is that the crimes are committed by people who are close to, hold authority over and count on the trust of the underaged, such as parents, relatives, priests;ABGLT does not accept this provocation by the Vatican against Lesbian, Gay, Bisexual and Transgender (LGBT) people, which is nothing more than an attempt to draw attention away from the more important problem that proliferates within the bosom of the Catholic Church, and which undoubtedly should be explained and clarified to society in general;ABGLT defends the Secular State and understands that religious freedom does not give the Vatican the right to judge with its own laws its peers who abuse children and adolescents. ABGLT maintains that ordained people who commit the crime of sexual abuse of children and adolescents, in addition to receiving due healthcare, must be subject to the penalties provided for by secular laws, in the same way as the rest of the population. As such, ABGLT joins other human rights organizations and demands that the Vatican provide an explanation regarding the crimes committed by catholic priests, and that it does not blame the LGBT community in this irresponsible manner;ABGLT, differently to fundamental religious sectors, defends sexual education for children and adolescents, in order for them to learn to have autonomy over their bodies, and learn to protect themselves from and report abuse at home, in churches, and wherever else it may occur;ABGLT calls on professional, human rights and LGBT organizations, both national and international, to make pronouncements on this matter; ABGLT hopes that the Vatican’s Secretary of State, Cardinal Tarcisio Bertone, will be capable of showing the minimum of respect to the families of the children abused by priests and bishops of the Catholic Church, and that, instead of placing the blame of its scandals on the homosexual community, it reflects on the past and on the harm that the Church has historically caused to Black people, the disabled, women, Jews, gypsies, homosexuals and children and adolescents throughout the world. Will the Church, in the future, also ask forgiveness of the homosexual community for yet another injustice it is committing now? Long live the Secular State. For the right for children and adolescents to have Sexual Education, for the punishment (under secular laws) of ordained people who sexually abuse children and adolescents, for a new Church that respects the human rights of all citizens, indiscriminately. ABGLT - Brazilian Lesbian, Gay, Bisexual and Transgender Association

quarta-feira, 14 de abril de 2010



A comédia I Love You Phillip Morris, que traz os atores Jim Carrey, Ewan McGregor e Rodrigo Santoro vivendo personagens homossexuais, teve sua estreia adiada nos Estados Unidos.Previsto para ser lançado no próximo dia 30 de abril em todo o país, o filme de Glenn Ficarra e John Requa deve estrear somente no dia 30 de julho, segundo a revista Variety. I Love You Phillip Morris é baseado na história real de Steven Russell (Jim Carrey), que após se envolver em fraudes, é preso e condenado. Na cadeia, conhece Phillip Morris (Ewan McGregor), o amor de sua vida.
O ator Rodrigo Santoro interpreta Jimmy, o primeiro namorado de Russel.




A nova investida do assumido estudante paulistano Sérgio Franceschini, 21 anos, conhecido na cena e na net pelo codinome Sr. Orgastic, deve ser na literatura.Segundo o jornal O Globo, o participante da última edição do reality show global Big Brother Brasil, pretende lançar um livro intitulado O Diário de Serginho. "É uma coisa bem doce e light, voltada para quem quer me conhecer melhor. Vou dar dicas de maquiagem, de roupas, de internet, etc.", contou o ex-BBB. Não foi mencionada a editora nem qualquer data de lançamento, mas segundo o socialite Bruno Chateaubriand, também homossexual assumido e que pretende ajudar Serginho na empreitada, a intenção é que o livro seja vendido em bancas de jornal.Logo após deixar o programa, no dia 21 de março, Serginho especificou dois possíveis destinos para os R$ 50 mil que ganhou durante sua permanência no BBB: investir em uma marca de roupas que levaria seu nome e fundar uma organização para combater o preconceito no âmbito familiar. “É uma organização para tratar sobre o preconceito que vem de casa, os pais que influenciam os filhos a terem preconceito. Faz um tempo que estou discutindo esse assunto e pesquisei muito”, declarou Serginho na ocasião.

Dicesar, a top drag Dimmy Kieer, fará participação especial na capa da próxima edição da revista G Magazine. O participante da décima edição do reality show global Big Brother Brasil assinou contrato com a revista na última sexta-feira, 9 de abril.Na reunião com a diretoria da G, foram acertados os detalhes de sua participação.O ensaio fotográfico que envolve Dicesar deve ocorrer nos próximos dias.

Quanta Hipocrisia

O Secretário de Estado do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone, mais uma vez associou pedofilia à homossexualidade, ao abordar os escândalos envolvendo padres e menores de idade que cada vez ganham mais evidência em diversas partes do mundo. O cardeal, que está em visita oficial ao Chile, afirmou durante entrevista coletiva nesta segunda-feira, 12 de abril, que “diversos psicólogos e psiquiatras já declararam que não há relação entre o celibato e a pedofilia, enquanto muitos outros disseram, pelo que fui recentemente informado, que há a relação entre pedofilia e homossexualismo”."Essa patologia toca todas as categorias da atividade humana, e os padres em uma proporção menor”, acrescentou ainda Bertone.Em manifesto divulgado na semana passada, o Movimento de Integração e Libertação Homossexual (Movilh) já tinha refutado a visita do cardeal ao Chile devido a declarações semelhantes, feitas recentemente por Bertone. Segundo a organização, o cardeal “difunde o ódio contra a diversidade social” e “entre as minorias existe um especial repúdio aos discursos e ações de Bertone, pois em mais de uma oportunidade, ele chegou ao imoral e cruel extremo de utilizar a orientação sexual dos padres como 'bode expiatório' das acusações de pedofilia que pesam sobre os sacerdotes no mundo”. Para os ativistas, que acusam o secretário de ser “uma das figuras mais homofóbicas do mundo”, tais posicionamentos são “descarados e inumanos, pois são divulgados em momentos em que se conhecem mais casos dos brutais abusos cometidos por sacerdotes contra meninos e meninas menores de idade”. O cardeal Bertone, convidado pela Conferência Episcopal Chilena e pelo governo, chegou ao Chile na última terça-feira, 06 de abril.

segunda-feira, 12 de abril de 2010



A Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), em Dourados, está com inscrições abertas até esta sexta-feira, 9, para o III Curso de Direito Homoafetivo: Direito e Psicologia dialogando sobre o amor entre os iguais. O evento, que é gratuito, é uma iniciativa do Centro Acadêmico de Direito (CAD) da universidade e será realizado entre os próximos dias 13 e 16, das 13 às 17h, com carga horária de 20 horas e vagas limitadas.O curso é voltado para a comunidade em geral, especialmente educadores, assistentes sociais, psicólogos, funcionários técnicos do Poder Judiciário, policiais militares e civis e alunos dos cursos de Direito, Pedagogia, Ciências Sociais e Psicologia. “Estamos tentando trabalhar a formação de profissionais como uma das estratégias para avançarmos na luta contra homofobia”, enfatiza o coordenador Antônio Carlos Sardinha, jornalista especialista em direitos humanos e cidadania, mestrando do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Unesp e integrante do Grupo de Estudos sobre Direitos Humanos (FAAC/UNESP). Além dele, participam também da formação a psicóloga e advogada Maria Cristina Leal de Freitas, especializada em Psicologia Educacional e Psicoterapia; e o psicólogo Leonardo Bastos Ferreira, coordenador do CentrHo - Centro de Referência de Direitos Humanos de Prevenção e combate à Homofobia da Secretaria de Estado de Trabalho e Assistência Social.Os interessados em participar devem fazer sua inscrição com o acadêmico de Direito Rômulo Carvalho pelo email romulocqz_direitouems@hotmail.com ou na própria UEMS. Mais informações pelo telefone (67) 3503-1006.


Rompendo Fronteiras na Educação

De acordo com o artigo 5º da Constituição federal de 1988, todas as pessoas são, ou deveriam ser consideradas iguais perante a lei. Entendemos que a palavra “todas” se refere realmente a todas as pessoas, independente de seu gênero, idade ou orientação sexual. É óbvio que qualquer movimento que quer assegurar os direitos sexuais, ou melhor, os direitos humanos, se engajem na luta pelo direito de expressar e exercer o afeto e a sexualidade, tanto no público como no privado, sendo a pessoa homossexual ou heterossexual, mulher ou homem e sendo ela idosa ou adolescente.O enfoque necessário do movimento LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) às discussões acerca da realidade de crianças e adolescentes deve acontecer através da afirmação de seus direitos sociais e sexuais. No Brasil, embora haja um movimento organizado boa parte da população nutre alguma forma de preconceito ou discriminação contra pessoas LGBT, e há anos não conseguimos aprovar uma lei que puna a homofobia ou que minimamente reconheça como entidade familiar aquelas famílias constituídas através da afetividade entre pessoas do mesmo sexo. A sexualidade é aprendida e construída ao longo de toda a nossa vida, de vários modos e por diversos sujeitos que incorporam múltiplas identidades como a classe, a raça, e o gênero sexual orientados dentro do contexto sócio-culturais.As identidades sexuais fazem parte de uma conjuntura de construções sociais que tem como característica experimentar os prazeres e os desejos corporais, que pode ser tanto com parceiros do sexo oposto, heterossexuais, quanto parceiros do mesmo sexo, homossexuais, ou até mesmo de ambos os sexos, bissexuais. As muitas formas de disseminar os prazeres sexuais entre ambos os sexos são sugeridas e promovidas socialmente nos dias atuais, e muitas vezes de forma explicita, através da própria mídia televisiva, já que no passado os meios de comunicação não eram tão tecnologicamente avançados.A grande maioria das pessoas, incluídos aí profissionais de educação, percebe o comportamento sexual como algo obscuro, pois, tiveram base da construção da sua sexualidade, os estigmas de uma sociedade preconceituosa.Este comportamento, em parte significativa, é fruto da cultura judaico-cristã, que como sempre foi afirmado que o sexo é exclusivamente destinado à reprodução e aceito apenas dentro do casamento. Essas pessoas não conseguem identificar este fator negativo em suas vidas e muitas vezes solidificam o conceito de relações sexuais como uma coisa vergonhosa. Em 1869 o homossexualismo era caracterizado como um comportamento desviante e anormalidade patológica. No século XX, o termo homossexualidade passou a ser mais aceito fazendo referência a um tipo de orientação sexual que proporcionava às pessoas de viverem a sua sexualidade e seus prazeres sem discriminação e serem taxadas como doentes. Ao relegar a homossexualidade como um perfil de doença, anormal e imprópria, é o mesmo que fazer com que as pessoas que se identificam como homossexuais se escondam e se refugiem no silêncio e sendo assim jovens gays e lésbicas serão reconhecidos como “desviantes” e “indesejados/as”.Ao conceber a identidade heterossexual como normal e natural, nega-se que toda e qualquer identidade (sexual, étnica, de classe ou de gênero) seja uma construção social, que toda identidade esteja sempre em processo, portanto nunca acabada, pronta, ou fixa. Embora tenhamos muito a fazer para combater o preconceito à diversidade sexual existente, cabe destacar que muitos já vêm lutando para contribuir para a superação do preconceito, bem como a luta pelo direito à dignidade e pelo respeito à diferença, que é dessa forma que são nomeados àqueles que não se enquadram na norma imposta pela sociedade.Quando abordamos a questão da educação percebemos que o adolescente ou a criança como um individuo em situação diferenciada de direitos, mas como seres legítimos de direitos é saber que precisam ter respeitados e garantidos o exercício da sexualidade e da afetividade. O Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, embora não reconheça essa discussão, nos diz que esses mesmos sujeitos têm direito a opinião e expressão, também o direito a preservação da identidade, autonomia e principalmente o direito ao respeito.A Escola tem importante função no processo de conscientização, orientação e instrumentalização dos corpos da criança e do adolescente. A instituição escolar, ao classificar os sujeitos pela classe social, etnia e sexo, tem historicamente contribuído para reproduzir e hierarquizar as diferenças. Essa tradição deixa à margem aqueles que não estão em conformidade com a norma hegemônica e, desta forma, não contempla a inclusão da diversidade sexual, proposta na atualidade. Esse cenário alerta para o papel da Educação no combate à homofobia, por meio de ações que promovam a construção de uma sociedade justa e equânime e que garantam os direitos humanos, por intermédio da integração das Políticas Públicas citadas aos Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) para a Orientação Sexual. Contudo, a escola reflete o panorama de desconhecimento dessas políticas, o que dificulta o reconhecimento da homofobia presente no cotidiano e ressalta o despreparo de educadores para lidar com essa situação (SANTOS; BRUNS, 2000). De acordo com os padrões exigidos pela sociedade, deve-se impedir uma criança do sexo masculino de brincar de boneca, simplesmente pelo fato de existir uma norma social que atribua bonecas ao sexo feminino, é de fato uma violação de direitos. Impedir uma adolescente de namorar outra menina adolescente, só por ser vigente socialmente uma norma que diz que ela deve ser heterossexual e namorar somente meninos adolescentes. Sabemos que também é uma violação de direitos o constante buling por parte dos alunos da escola em que estuda, que é constantemente ignorado e até mesmo reforçado pelos professores, levando o adolescente à dificuldade de aprendizagem e até o abandono dos estudos. O que podemos dizer hoje da adolescente travesti, que mesmo quando consegue terminar seus estudos, fato extremamente raro devido à pressão social que enfrenta, dificilmente arrumará algum tipo de emprego; quando devido à falta de oportunidades, ela quase certamente, entrará na teia da exploração de corpos para o fim de exploração sexual? Um pai, que faz uso do “estupro corretivo” para violentamente provar para a filha que ela deve gostar de homens, se adaptando ao que ele considera correto? E das famílias que não aceitam a identidade do adolescente e o expulsa de casa deixando-o extremamente vulnerável a toda a sorte de violências, inclusive o abuso e a exploração sexual? O que podemos dizer, por exemplo, de uma menina transexual que além de viver um conflito entre sua identidade própria e a identidade social atribuída ao seu sexo de nascimento, entra na puberdade e começa a ver que o seu corpo não se desenvolve como o corpo das outras meninas e recorre ao uso de hormônios e as técnicas de modificação corporal? Sem dúvida imaginamos como ela ficaria feliz e realizada ao ver seus seios se desenvolverem como os de uma menina sem conflitos com o gênero que lhe é atribuído. Sabemos que este inclusive é um direito individual a liberdade, a identidade e a dignidade. Não é muito comum olhar para uma pessoa que se configura como mulher e chamá-la de João o tempo todo, desta forma faz-se necessário que dentro do Ministério da Educação (MEC) exista uma Política que determine a inclusão do nome social de travestis e transexuais nos registros escolares.Para travestis e transexuais se manterem na escola, mesmo com todo o preconceito sofrido, é o maior desafio do momento. Principalmente porque, sem instrução, fica praticamente impossível garantir um emprego digno e fugir da prostituição, atividade que a maioria destas pessoas acaba exercendo.A exclusão social, o preconceito, a violência e a não inclusão do mercado de trabalho resulta na questão de que as travestis acabem vivendo somente da prostituição, sem que sejam um cidadão por completo.Para conseguir passar em um concurso público, as travestis precisam de boa escolaridade, mas isso é quase impossível obter com o preconceito que sofrem dentro de sala de aula. A maioria não passa da quarta série, tudo isso faz com que a pessoa se sinta um patinho feio e saia da escola, lembrando que a educação é um direito constitucional de todo cidadão e que a travesti paga impostos ao governo como qualquer outra pessoa.De acordo com a coordenadora de Direitos Humanos do Ministério da Educação (MEC), a pasta tem uma demanda muito grande por parte de travestis porque “elas não ficam na escola”. “Aos nove anos começa a aflorar a questão da sexualidade, elas começam a ser maltratadas e a exploração sexual é quase uma trajetória”.A polêmica, envolvendo o uso do banheiro feminino pelas travestis transexuais em escolas públicas é outro problema.Diversos fatores contribuem para esta lacuna na efetiva ação do/as educadores/as: qualificação deficitária; baixa remuneração; sobrecarga de trabalho; silenciamento diante de situações de violência pelo sentimento de incapacidade para a ação, decorrente da repressão sexual e da aceitação acrítica da heteronormatividade compulsória; e pela postura de não alteridade.Dos direitos básicos garantidos pela Constituição, a educação é o mais acessível inclusive por aqueles socialmente marginalizados, o que torna o ambiente escolar importante espaço de promoção da cidadania. A Escola, como espaço primário de educação formal e para além do seu papel, que é da ordem do conhecimento, tem como desafio articular e executar as políticas públicas, discutir e repensar valores culturais e permitir a desconstrução de normas rigidamente estabelecidas.A fim de garantir que esses princípios sejam alcançados, é preciso expandir a abrangência de ações inclusivas, que possibilitem a expressão das diferenças de todas as ordens étnicas, religiosas, de orientação afetivo-sexual, políticas, ideológicas, econômicas e que levem o sujeito a compreendê-las como indispensáveis para sua existência plena, de direitos e de deveres, em sociedade.A percepção da gravidade da situação que é a constante violação dos direitos fundamentais desses indivíduos, como o direito a liberdade, ao respeito e a dignidade, a vida familiar e comunitária, a educação e a profissionalização, não pode ser ignorada pelo movimento LGBT e pelo movimento de crianças e adolescentes. Precisamos de uma grande incidência política para que o Estado garanta a inviolabilidade dos direitos desses indivíduos.Sendo assim cabe a todos os educadores reconhecer que a sexualidade deve ser discutida e não encarada somente como discurso biológico (reprodução), ou seja, temos que admitir e discutir a construção histórica das identidades sexuais de forma a não continuar reforçando as identidades sexuais “normalizadas” pela sociedade. É necessário problematizarmos as diversidades sexuais, promovendo igualdade e garantindo o respeito aos direitos sexuais. Cabe salientar que o preconceito seja ele qual for, não se refere somente à integridade corporal, a ironia, as indiferenças não recebem as mesmas punições que os atos físicos de violência recebem, porém “essas ‘armas’ de repercussão psicológica e emocional são de efeito, tão ou mais profundo, que o das armas que atingem o corpo físico, pois ferem a alma e prejudicam um valor precioso do ser humano: a auto-estima. A sexualidade, as identidades de gênero e as identidades sexuais são questões que precisam ser problematizadas nas escolas, uma vez que o silenciamento das questões sobre a diversidade sexual é uma forma de contribuir para o aumento da homofobia.
Vanilly Borghi(Cabeleireira, Maquiadora, Educadora Social e atual presidente da Associação Grupo Orgulho Liberdade e Dignidade - GOLD)