sexta-feira, 30 de outubro de 2009


Está em cartaz no bar paulistano O Gato a exposição "Fabulosa", do fotógrafo, coreógrafo e diretor teatral Ronaldo Gutierrez. Em imagens provocantes e de forte teor homoerótico, Ronaldo brinca com a inocência dos contos de fadas para retratar a beleza do corpo masculino.
Com passagem em companhias como o Ballet Stagium e o The Royal Ballet, de Londres, Ronaldo, 47, uniu sua experiência como bailarino e seu gosto pela fotografia para alcançar um resultado contundente e diferenciado. Em seu currículo, destaca-se a série que fez para a galeria virtual DevianArt e também seus trabalhos para moda e publicidade.
Nesta entrevista, o fotógrafo fala sobre a ideia da exposição, critica a falta de patrocínio para a arte no país e diz que, entre a realidade e a ficção, prefere retratar o "sonho e a beleza".Pode nos contar um pouco sobre seu trabalho? Como e quando tudo começou?Comecei a fotografar muito cedo, há uns 30 anos mais ou menos, ganhei uma Minolta Reflex e fiquei brincando muito com ela até conseguir alguma coisa. O interesse pela fotografia veio da minha vontade de ser pintor, mas como não sei desenhar uma reta com régua, encontrei na fotografia minha forma de tentar fazer uma obra de arte, por isso, quase todo o meu trabalho tem influência de grandes pintores clássicos.O que o levou a se inspirar em contos de fadas para realizar a exposição?Foi o próprio local. O Bar Gato tem uns becos que parecem masmorras, aí pensei nos contos de fadas, como se os personagens estivessem presos nesse castelo velho e estivessem cansados da brincadeira e buscando a vida real.
Seu trabalho tem um forte apelo homoerótico. Esse "olhar gay" é proposital?Bom, esse é o meu olhar, afinal, sou gay. Por muitos anos, como artista eu não pude fazer o que eu realmente queria. Meus assessores de imprensa e produtores diziam que eu não poderia fazer nada com um apelo muito gay porque senão ficaria nos guetos e não conseguiria público. Mais tarde dei um basta nisso tudo e resolvi fazer o que eu realmente gostava e para quem eu realmente gosto. Sim, fiquei sem público, o dinheiro agora é muito mais difícil, quase não encontro patrocínio nem onde mostrar meu trabalho, mas estou plenamente feliz! Olho a minha obra e pela primeira vez sinto que gosto, pode ser que ninguém mais goste, mas para mim dá prazer.
O que sua atuação como coreógrafo e diretor de teatro influi em seu trabalho como fotógrafo?Tudo! Como coreógrafo eu congelo o movimento que dou ao modelo, produzindo formas plásticas, e como diretor tento fazê-lo revelar sua alma. Não consegui fazer isso direito ainda, mas é o caminho que estou trilhando.
Essas fotos vão compor um calendário que você está produzindo. Como as pessoas poderão adquiri-lo?Vou precisar de patrocínio para poder fazer o calendário. As fotos já estão quase prontas, faltam só mais algumas para poder escolher as melhores. A ideia é que ele seja vendido no próprio bar e pela internet, mas ainda precisamos do bendito patrocínio e apoiadores...
Você mistura a realidade a uma atmosfera onírica. O que é mais interessante para retratar? A realidade ou a ficção?Essa pergunta é difícil! Vivi durante quase 40 anos no palco de todos os tipos... Fiz puteiro, boates gays, passando pela Medieval e Nostro Mundo, terminando no Teatro Municipal e até fora do país. Dancei no Royal Ballet de Londres e uma semana depois no Vagão Plaza. O que seria essa vida? Realidade ou fantasia? Esse dois mundos já colidiram na minha vida faz tempo, respeito os dois, mas se for para escolher, ainda prefiro retratar o sonho e a beleza, mas de uma forma bem mundana.

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