É preciso agir contra a homofobia |
Os agressores são jovens com conduta que nos leva à certeza da necessidade de aprovação do projeto de lei 122/06 que tramita no Senado, cujo objetivo é criminalizar a discriminação em relação ao segmento que vem aumentando assustadoramente. De acordo com os dados da ONG SaferNet, entidade que monitora crimes e violações aos Direitos Humanos na internet, as denúncias de conteúdo homofóbico renderam 4.983 queixas nos primeiros nove meses de 2010, 88% a mais do que no mesmo período de 2009.
A intenção do projeto de lei é inserir em texto legal já existente - que pune a discriminação em razão da cor, raça, origem, religião etc., a punição dos mesmos atos em relação ao segmento LGBT, para minimizar os números de intolerância.
O projeto que tem apenas como objetivo o reconhecimento da igualdade entre os cidadãos, exatamente como prega nossa Constituição Federal, enfrenta obstáculos tão difíceis de serem transpostos que foram necessárias alterações em seu texto, visando “amenizá-lo” com o objetivo de ser mais provável sua aprovação.
Seus maiores opositores são os políticos integrantes das bancadas religiosas que vêem a questão não como um direito constitucionalmente garantido, o da igualdade e, sim, como uma violação a preceitos religiosos. Ironicamente são esses mesmos religiosos, que estão protegidos pela mesma lei na qual se pretende incluir o segmento LGBT, impedindo que seja alvo das formas mais cruéis de preconceito.
O polêmico texto do projeto agora enfrenta mais um revés, além das questões religiosas. As manifestações contrárias falam, agora, que se trata de uma “lei da mordaça”, que impedirá qualquer manifestação a cerca da orientação sexual.
Sem muita dificuldade percebe-se que o intuito do projeto não é impedir manifestações sobre a homossexualidade e, sim, impedir e punir a abordagem discriminatória, o incitar à homofobia. É permitido falar sobre a homossexualidade, mas deverá ser crime disseminar a repulsa e a raiva, a ponto de gerar atos de violência como aqueles que temos visto.
Por certo os jovens agressores receberam alguma influência de homofóbicos e de parte da sociedade que não é a agressora, mas tolera a discriminação, como reflexo da impunidade.
O preconceito infelizmente perdurará por muito tempo e só cederá em decorrência de projetos de sensibilização e educação de pré-adolescentes e adolescentes para que cresçam com a noção da ampla igualdade. Enquanto não formarmos os novos cidadãos, conscientes e justos, apenas o projeto de lei poderá minimizar os atos homofóbicos. É lamentável, mas enquanto a homofobia não ceder pela simples constatação de que todos são iguais, terá que cederá por força de lei.
* Sylvia Maria Mendonça do Amaral é especialista em Direito Homoafetivo, Família e Sucessões, sócia do escritório Mendonça do Amaral Advocacia e autora dos livros "Histórias de Amor num País sem Leis" e "Manual Prático dos Direitos de Homossexuais e Transexuais" - sylvia@smma.adv.br
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