segunda-feira, 13 de junho de 2011

Muita gente está prestando atenção nos capixabas e esse fato não se deve única e exclusivamente às descobertas do petróleo em mares que banham o nosso rico litoral. Com o crescimento econômico do Espírito Santo, cerca de 40% acima da média nacional, e com a migração de nova mão de obra, nossa cultura está se adaptando a novas realidades. Mas como os empresários locais se relacionam com a cultura GAY local? Saiba mais nessa reportagem escrita por Rafael Ribeiro

A cultura gay capixaba é considerada underground. Ela só passa a existir quando um grande nome surge e ocupada seu lugar nas mídias nacionais. Assim foi com Sergio Herzog, produtor do Miss Gay ES, Chica Chiclete maior empresaria LGBT e Ângela Jackson, uma das maiores transformistas capixaba. É notável o crescimento de espaço que nós gays alcançamos na mídia local. Para muitos a falta planejamento, investimento e material humano capaz de traduzir nossa realidade ainda é um complexo quebra cabeças a ser solucionado.
Nossa realidade ainda depende e muito de ações promocionais individuais para evidenciar este momento em que vivemos na criação da identidade de produtos. Mas de fato, muitas das ações em cultura estão ainda em desenvolvimento e são louváveis.
Muita coisa mudou e não é raro hoje em dia termos artistas que nos brindem com seu material para que possamos trabalhar com eles. A qualidade melhorou, mas peca pela falta de oportunismo já que no ES muito da cultura gay já se determinou por um ou dois grupos e fica difícil conseguir penetrar junto a essa audiência consumidora, pois, acreditasse que não há mais espaço para crescimento. O mercado também é considerado pequeno, e isso não é verdade, comenta Lucia Ribeiro, proprietária de uma agencia de comunicação voltada exclusivamente para a diversidade sexual. Acredito completa ela, que os projetos tem que ser apresentados de forma profissional, pois tudo no universo das agencias de publicidade gira em torno dos planejamentos estratégicos que são realizados no meio do ano em diante.
Outro ponto que chamou a atenção na produção dessa reportagem foi que a maior parte dos consumidores da cultura gay local não entende que o que é feito aqui tem valor e merece ser respeitado.
A considerada falta de profissionalismo no setor de gerenciamento cultural de forma geral reflete na queda de qualidade no planejamento da cultura gay a longo termo. E isso não é falta de incentivo na educação. Mesmo quando abrimos turmas, o capixaba em geral ainda não está habituado a estudar. Nós somos um povo que estuda para concursos públicos ou cargos na indústria pesada. A procura está nessas áreas. Desde que abrimos nossos cursos de pós-graduação ainda não fechamos turmas nas áreas culturais, daí as confusões na hora de apresentar projetos para empresários e nesse meio a primeira impressão conta e fica. O que acaba dificultando na captação de recursos reflete uma coordenadora geral de uma da pós-graduação capixaba.
Outro ponto contra a captação de recursos é o fato de que muito ainda é feito na perspectiva de alguém conhecer o dono da verba. Segundo a coordenadora, isso não é bom, pois cria um ciclo vicioso e, um projeto pode acontecer hoje e, dependendo do humor da amanha o projeto pode não acontecer mais. O que acaba por não criar público para tais produções.
Quando um projeto é desenvolvido e apresentado a nossa empresa consideramos primeiro se ele tem em mente a sustentabilidade de verba e o interesse da audiência gerando retornos a longo prazo ressalta o gerente de marketing de uma na Serra.
Mas então quais os tipos de projetos que poderiam fazer a diferença na cultura gay capixaba?
Para muitos, uma jornada pesada de trabalho, as distancias, a dificuldade de locomoção e os altos preços de deslocamento acabam pesando na balança quando o assunto é consumir cultura.
No Espírito Santo outro fator importante é que muitos ainda desconheçam o que é cultura gay. Para a maior parte da comunidade, falar em cultura gay ainda significa pensar em boites, saunas e praia. Churrasco de domingo e muito carão, com roupas caras e de grife. Essa é a representatividade da cultura gay local.
Esse pensamento é maléfico para qualquer tipo de produção que não seja baseada em amostrar músculos, musica bate estaca e gliter. Se uma peça teatral ou mesmo uma exposição de arte é realizada, somente os amigos dos amigos freqüentam. Não temo o habito de pensar alem das grifes explica um produtor teatral. A situação só não é pior para a produção audiovisual que, com a exposição e sucesso do Vitoria Cine Vídeo aliada as leis de incentivo facilitam bastante o acesso a um público um pouco maior, mas não alcança a audiência que poderia validar a busca de patrocínio e ajudar na profissionalização do mercado completa o produtor.
A falta de conhecimento no setor, aliado ao despreparo do empresariado mais pouca audiência do publico vão minando as forças da cultura regional. Aqui se encontram as mais variadas formas de cultura. Como somos um povo formado por natureza de índios, italianos, baianos, mineiros e portugueses dentre outros, a nossa riqueza aliada à facilidade de mobilidade dentro do território geográfico capixaba – mar e montanha em poucas horas – deveria ser um facilitador, mas não é bem assim.
Eu pago 50 ou 60 reais para pular uma micareta seja em Conceição da Barra ou em Alegre, porque eu cresci vendo meus pais e irmãos indo para estes locais quando eu ainda era pequeno e eu gosto do som comenta Pedro Santos, 28 anos que nunca pisou num teatro.
Lucia lembra que a falta de conhecimento da própria cultura aliada à dificuldade de aceitação dentro de uma sociedade majoritariamente religiosa deveria ser refletida nas próprias produções oferecidas a este publico. Não da para ficar reclamando quando eles pagam a mais pela cultura ‘importada’ que nos chega se nossa audiência nunca teve acesso à cultura regional ou não se reconhece nela. Quando uma peça publicitária é feita por nossa empresa sempre pensamos em como iremos inserir a nossa forma de pensar o mundo - cultura gay.
Os números
Estudos constatam que com o advento da tecnologia, a falta de tempo (64.2%), bilhetes são caros (53.2%) e localização não é segura (19.4%) são grandes problemas para a audiência consumir cultura de forma geral. Ou seja, 94.0% do público em media prefere ver televisão em casa. Apenas 6% se sentem estimulados a sair para consumir um produto cultural.
No mundo gay, desconhecimento das produções, (75%), pouca divulgação (64%) e não se reconhecem como gay (81%) impedem uma maior penetração das produções na audiência capixaba.
Entendemos que um ou outro artista encontrou visibilidade junto à audiência. Outros passaram da cena gay para o mainstream e são profissionais da comedia. Então, quando resolvemos trabalhar com eles, o anunciante ainda considera agressivo ter um artista gay em sua produção quando o assunto é peça publicitária. Isso é reflexo direto em como o anunciante enxerga a cena gay – promiscuidade comenta a publicitária Tatielle Brito. Muitos empresários entendem que não da para estimular cultura só por mecenato.
Logo, as casas noturnas são a primeira forma de investir e ter retorno. Por ter um parque industrial forte que representa 60% do PIB capixaba, a região da Serra, área metropolitana de Vitoria esta começando a evoluir nesse sentido. O problema da região é a violência, a presença marcante das igrejas e o tamanho geográfico da região. Porem uma nova tentativa de casa noturna se instalou por la.
Disseram que a casa seria hetero mas parece me que eles estão adotando uma política gayfriendly. Isso é bom pois precisamos de mais espaços para curtir comentou o auxiliar administrativo Pedro Antonio. Perguntado se ele freqüentaria teatros e exposições da cultura gay, ele disse não ter dinheiro para tais produções e que mesmo se tivesse ele raramente fica sabendo de algo desse nível. Uma entrada chega a ser R$ 60. Só volto para casa de taxi é mais seguro, completa ele. Você mora aonde perguntamos? Eu moro na Serra sede.
No ponto de taxi, o taxista informa que uma corrida do bairro das Laranjeiras à Serra sede não sai por menos que R$20. Numa noite, R$100 foi o mínimo que ele gastou para curtir a cultura gay que ele acredita fazer parte. Drinks na casa iniciam-se a R$10. Façam as contas. Pedro esta com 25anos.
Para Antonio Filho, catarinense, o fato dos capixabas serem culturalmente desconfiados de tudo e todos, também é um complicador. Capixaba só faz negócios olhando nos olhos. Isso é bom por um lado, mas retarda todo o processo. Tecnologias como internet, redes sociais e outros foram criadas para facilitar este processo. Se eu encaminho um projeto, o mínimo que poderá ser feito para adiantar o processo eh que este projeto seja lido com antecedência. Cansei de ir a reuniões nas quais a pessoa desconhecia por completo o projeto. Tudo ainda depende de improviso.
Algumas iniciativas estão começando a dar frutos mas todas estão se concentrando no âmbito do entretenimento noturno. Ainda falta atender a uma gigantesca parcela da população que prefere não bater cabelo*. Somente com profissionalização é que essa demanda será atendida.
Eis que a profissionalização do setor se faz tão importante. O papel de produtor cultural é ser o intermediário, tradutor das línguas faladas nos meios empresariais e na comunidade artística e assim, ser o responsável pela adequação, apresentação, realização e avaliação dos projetos que serão propostos aos empresários.
Imprensa ouviu durante duas semanas dragqueens, DJs, produtores culturais, empresários do meio e de fora do meio gay, representantes comerciais, e o publico em geral e percebeu que ao sermos colonizados com a cultura que já vêem pronta estamos mais aptos a consumir e valorizar o que é externo na tentativa de fazer com que Vitoria seja reconhecida a nível nacional.
Para Silva e Silva, Vitoria tem um complexo de inferioridade que poderia ser resolvido se tosos num processo de reconhecimento aplaudissem o que é produzido aqui. Em nenhum lugar do mundo o local é rejeitado como o que fazemos com nossas produções culturais. Veja o caso do nordeste! Tudo lá é pasteurizado para a linguagem e imagem do nordestino. Os cases de Joelma Calypso e Stephane Absoluta, apesar de ridículos são sucessos. Não digo para seguirmos aquela linha mas sabemos que da forma que esta não da para continuar. Ate quando perderemos nossa cultura para outros centros porque ninguém consegue sobreviver da própria produção?
Um representante comercial de um canal de televisão, que pediu para não ter nem o nome nem a empresa revelados afirmou que muitos empresários estão dispostos a patrocinar programas que estejam voltados para essa linha e o grupo que conseguir sair na frente, estará na vanguarda da produção artística cultural. Como a emissora esta em franca expansão há um entendimento que esse produto pode estar em rede nacional numa fração de tempo, mas tem que ser bom e ter apelo, comentou o carioca que chegou ao ES há três anos e pretende não mais voltar para o RJ.
Falta humanização do artista em um veículo que esteja comprometido com a formação, a divulgação e o mais importante, demonstre respeito pelo artista e sua obra ao expô-los reflete um músico e cineasta da cena local. A diretora teatral, Margareth Galvão incisiva completa, nós ainda estamos olhando muito para nossos umbigos e perdendo as oportunidades que a terra tem a nos oferecer.
*batecabelo> gênero de musica eletrônica que se popularizou no Brasil em meados de 2005.
Rafael Ribeiro
Rádio music vix

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