sábado, 16 de julho de 2011

As recentes declarações dos deputados Jair Bolsonaro (PP-RJ) e Myrian Rios (PDT-RJ) inspiraram o coordenador de mídias sociais e promoter do clube paulistano D-Edge, Vinicius Yamada (foto, à esq.), 29, a realizar um projeto que ironiza a homofobia.

"Não é gay se... - as exceções da metrossexualidade" tem uma página no Tumblr, onde imagens dos políticos são acompanhadas de frases espirituosas, que brincam com o termo "metrossexual". "É incrível o que as pessoas falam, deixam de falar ou inventam para justificar algo que, na verdade, é de direito", explica o promoter, acrescentando que a ideia do projeto surgiu enquanto percorria as redes sociais. "Sempre me deparava com um amigo postando comentários indignados ou compartilhando notícias sobre preconceitos sexuais que se desdobravam em leis ou atitudes agressivas", conta.
A carreira de Vinicius nas mídias sociais não é recente. É de sua autoria, por exemplo, o famoso aplicativo "Distribua Mágoas", que consistia em enviar flores e animais de presente pelo Facebook. Atualmente, o promoter trabalha na agência We, onde ficou responsável pela bem-sucedida campanha/pegadinha da cerveja Proibida, protagonizada pelas "tchecas" Dominika e Michaela.
Na entrevista que você confere a seguir, Vinicius fala mais sobre o projeto e admite que a função do humor, nesse caso, é "levar a reflexões pessoais, minimizando paranoias". E também divertir, claro.


Como surgiu a ideia do projeto? Pode me falar um pouco sobre ele?
Assim como projetos anteriores (Distribua Mágoas, por exemplo), surgiu da possibilidade do desdobramento de um "meme" (termo usado para descrever um conceito que se espalha pela internet). Quando entrava nas minhas redes sociais particulares, sempre me deparava com um amigo postando comentários indignados ou compartilhando notícias sobre preconceitos sexuais que se desdobravam em leis ou atitudes agressivas.


Seu objetivo, ao que parece, é ironizar a homofobia, tratar do preconceito contra LGBT de forma bem humorada. Qual é a função do humor nesse sentido?
Há um ditado que diz: "toda brincadeira tem um fundo de verdade". Muitos dos posts brincam com o termo "metrossexual", que por vezes é utilizado por pessoas que temem a opinião alheia/pública. "Se o David Beckham pode, eu também posso" é uma filosofia que defende a vontade de um homem pintar as unhas sem ser recriminado pela sociedade, por exemplo, quando na verdade não se precisa esconder atrás de termos para justificar comportamento ou evitar questionamentos sobre sua sexualidade. O humor lida com essas situações de forma delicada para levar a reflexões pessoais, minimizando paranoias. É incrível o que as pessoas falam, deixam de falar ou inventam para justificar algo que, na verdade, é de direito. Apresento nestes posts específicos situações extremistas que remetem ao humor pastelão, como: "não é gay se você comemora gol" (usando algo que geralmente é tido como viril, no caso o futebol, com a foto de dois jogadores se beijando), ou mesmo um jogo de palavras "não é gay se seu peão comeu o bispo no tabuleiro". Não há nada demais com a homossexualidade, é isso.


Myrian Rios e Jair Bolsonaro são alvos do seu projeto. Você acha que eles deveriam sofrer algum tipo de punição após suas declarações homofóbicas?
Censurar opiniões é algo que uma geração anterior viveu e parece não ter sido agradável ou resolvido os interesses da época. Ditaduras não podem ser empregadas para liberdades específicas, é contraditório e não faz sentido. Todavia, fazer declarações ridicularizando sobre possíveis comportamentos da Preta Gil sem conhecê-la de fato, indubitavelmente é ofensivo e tem que sofrer sanções. Todos que se sentirem ofendidos e prejudicados por declarações de quem quer que seja deve fazer o mesmo e recorrer judicialmente. Myrian Rios e Jair Bolsonaro foram citados apenas pela relevância que têm atualmente, mas não devem ser punidos por serem heterossexuais (até onde sabemos), não pode haver esse preconceito inverso. Uma das maneiras que encontrei de levantar reflexões foi isolar frases do seu contexto inicial, como "não tenho filhos gays", e apresentá-las como se fosse tão importante tal uma lápide. Todo o mundo quer ser lembrado por algo interessante na vida, imagina se essa frase sem o contexto eternizasse a memória do Bolsonaro. Poderia ser frase de um comediante e/ou acaba desvalorizando o sentido de uma existência inteira.


Qual é sua opinião sobre o novo texto do PLC 122, que criminaliza a homofobia, e que teve a participação de integrantes da bancada evangélica?
Isso é humor. Mas não é meu tipo predileto de entretenimento, só não queria estar na pele de um evangélico gay. Isso é feito com propósito de causar indignação mesmo, assim esconde de holofotes outros projetos de interesses privados. Enquanto isso tem gente que fica, por exemplo, comendo duas bolachas na merenda em escola pública.
Como pretende divulgar esse seu projeto? Apenas pelo Tumblr? Outras pessoas podem colaborar com imagens e textos?
Criei uma página no Facebook replicando o conteúdo para estar presente no "mainstream" das redes sociais. Acredito que não há melhor maneira de divulgação que desse modo orgânico, boca a boca (ou seria post a post?), além de agradável não soa invasivo. Há também o Twitter, adoraria receber colaborações de texto e imagens sim. Sem preconceito.
A Capa

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