terça-feira, 9 de agosto de 2011

Talvez o diálogo seja algo ausente em filmes que tratam de conflitos entre a subjetividade do individuo (seja ela carnal ou filosófica) e o meio social. Entretanto essa diferenciação inicial poderia ser generalizável quando a possibilidade interpretativa e o “falar” imagens suprem o desejo e o desvendar do espectador. Mais uma me dedico a uma película que trata da religião. O diferencial do filme “Pecado da Carne” com o “Quando a noite cai” vai muito além das diferenças entre gênero, está visível na distância cultural quando se trata do judaísmo ultraortodoxo e com a intenção do filme como um todo.


Retratar uma relação amorosa entre dois homens dentro da religião judaica, ainda mais em uma corrente ultraconservadora e rígida parece ser algo impossível. Seria talvez como filmar um filme LGBT no Irã teocrático mulçumano. Essa conquista inimaginável talvez seja o maior mérito do filme. Um jovem judeu chega à procura de uma escola judaica em um bairro tradicional e por acaso conhece um senhor judeu conhecido por suas atividades na sinagoga. Na realidade a ida do jovem judeu tem um motivo amoroso e como é de se esperar em uma comunidade com grande rigidez e coesão, na qual os valores partilhados são mais fortes que outras, logo a notícia é tida como uma grande ameaça ao bairro.


O desejo carnal é visto pelos olhos dos protagonistas e pelo enquadramento da câmera que enaltece a beleza pecaminosa de Ran Danker que interpreta Ezri. As palavras nos diálogos são bruscas e fortes, tal como o comportamento religioso da comunidade. Quando as impressões de desejo saem pela boca dos personagens, são essas as mesmas que o espectador já pensara logo de inicio. O diretor prende as palavras e deixa o espectador sentir, aguarda o espectador viver o confronto.

Entretanto algo pode ser questionável quanto à intenção do diretor estreante Haim Tabakman e de toda a produção de “O Desejo da Carne”, já que aparentemente é “cabível” deixar o espectador tomarem suas conclusões. O filme parece não ter a principio a intenção de opinar. O pecaminoso é o intruso, o intruso leva o “correto” ao pecado pelo desejo, o desejo que se vê nos olhos. Será realmente que o desejo no filme é tido como válido ou apenas uma constatação do à figura pecaminosa deve ser mantida à distância para manter a coesão religiosa de sua comunidade? Transgredir não parece ser uma opção plausível no filme, e evitar esse confronto talvez seja uma das intenções intricadas no filme.


Apesar de ser apenas uma impressão, ao perceber que o filme foi financiado pelo Ministério da Educação de Israel torna meio dúbia na real intenção. Por fim vale lembrar que o sexo anal é um dos maiores e repudiáveis pecados do judaísmo. O desejo do ser humano é o repúdio da religião e uma negação de diálogo entre as vontades e suas funções espirituais sempre causam conflitos, vide o Brasil contemporâneo. Mas talvez seja o contrário, totalmente o inverso . Tirem suas próprias conclusões.
Gay 1

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