quinta-feira, 28 de julho de 2011

Oito meses após levar um tiro na barriga quando saía da Parada do Orgulho LGBT no Rio, o carioca Douglas Igor Marques, agora com 20 anos, afirma que desde então nunca mais saiu à noite, porque ainda sente medo. Nesta quinta-feira (28), ao saber que a Justiça decretou a prisão preventiva do sargento do Exército acusado de homofobia e que seria o autor do disparo, ele disse que a paz ainda está distante.

“A notícia me deixou meio nervoso e aflito, porque eu me mudei para tentar esquecer isso, fiquei com muito medo e agora voltou tudo, não sei nem o que pensar. Fui pego de surpresa. Eu já sabia que ele ia ser preso porque a promotora me disse que duas testemunhas foram ameaçadas”, afirmou ele.
A informação da decretação da prisão do militar foi publicada na coluna do Ancelmo Gois, do jornal O Globo, nesta quinta-feira. O juiz Murilo André Kieling, da 3ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio, decidiu pela prisão preventiva do militar na segunda-feira (25). A ordem pública e a integridade das testemunhas estavam entre os motivos citados no processo.
O advogado João Pedro Chaves Valladares Pádua, que defende o réu, informou nesta manhã que soube da decisão por fontes não oficiais. “Ainda não fui comunicado oficialmente. A única coisa que posso adiantar para vocês é que vamos (ele e o grupo de advogados que defende o réu) fazer o que for melhor no interesse do cliente”. Segundo ele, o militar continua exercendo normalmente suas atividades na mesma unidade, no Forte de Copacabana.
Relembre o caso
O caso aconteceu no dia 14 de novembro de 2010, no Arpoador, na Zona Sul do Rio. Douglas tinha saído da 15ª Parada do Orgulho LGBT e estava na companhia de amigos quando teria sido abordado por preconceito. O jovem foi socorrido e internado no Hospital Miguel Couto.
Com medo de represálias, ele se mudou para longe da casa dos pais, após uma decisão com a família. Atualmente, Douglas, que trabalha como assistente social, atende pessoas que sofreram com homofobia.
“Me prejudicou um pouco estar longe dos meus pais. O problema é à noite, fico com muito medo. Não saio mais à noite sozinho, tenho medo. Passei a ter receios de lidar com homens heterossexuais, o que eu nunca tive”, contou.
Jovem não queria denunciar
Ele afirma que o que mais espera no futuro é perder o medo e ter paz. “Como acontece com muitas pessoas, elas preferem não denunciar. Eu também não queria, eu queria deixar isso passar, estava com medo de sofrer represálias. Minha mãe que seguiu em frente e achou as pessoas. Isso me tirou um pouco a paz. O correto é denunciar, mas a gente fica numa aflição tão grande que não sei o que é melhor. Não sei o que ele pode fazer quando sair da prisão. A gente quer justiça, quer que ela pague pelo que fez, mas a gente tem medo”, desabafou.
O estudante chegou a fazer terapia, mas não conseguiu continuar por conta do trabalho e do curso de recursos humanos que está fazendo. Em janeiro ele espera começar a faculdade de direito. Douglas diz que não voltará mais à Parada LGBT. Depois do episódio, muitos amigos se afastaram, segundo ele.
“Teve muita gente que foi me visitar e muita gente que nem ligou. Depois disso, me mudei para longe, bem longe. Aqui estou sem amigos nenhum. Vou do trabalho para casa e da casa para o trabalho. Na verdade eu perdi a vontade, sabe? Perdi o ânimo”, disse ele.
Douglas hoje frequenta uma igreja que tem lhe dado forças. Além do medo, o episódio deixou a marca no corpo do estudante. “Tem uma cicatriza horrível, enorme na minha barriga”, disse.
Polícia
Na ocasião, o delegado da 14ª DP (Leblon) que ouviu os três militares envolvidos no crime afirmou que o autor do disparo preferiu não se pronunciar. O sargento, que tem 20 anos de Exército, havia alegado que não percebeu quando fez o disparo.
O sargento foi indiciado por tentativa de homicídio duplamente qualificado por motivo torpe e sem possibilidade de defesa da vítima, com dolo eventual.
Segundo a polícia, o autor do disparo alegou que manuseava a arma apenas para intimidar o jovem. Além da polícia, o Exército fez uma investigação paralela do caso para analisar as armas e os vestígios de pólvora nas mãos dos militares. Mas como o episódio foi fora da área militar, o caso saiu da Justiça Militar.
Procurado, o Comando Militar do Leste não informou, até a publicação desta reportagem, se o sargento recebeu algum tipo de punição pelo Exército.
Gay 1

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